Com a
morte recente da lendária Zilka Salaberry, que foi Dona Benta por 11 anos nos
anos 70 e 80, se foi também aquele Sítio do Pica-Pau Amarelo que despertava
saudosismo nos trintões de hoje. No dia 4 de abril, das 9h30 às 10 horas, o
Sítio estréia sua nova temporada de cara nova, com novos personagens, e uma
nova Dona Benta: Suely Franco, que substituirá Nicete Bruno.
No ar
desde 2000, o Sítio já ganhava uma roupagem mais moderna, e tinha Internet,
forno de microondas, automóvel e até telefone celular, em pequenos episódios
onde cada história era contada em pouco mais de um mês. Com o novo formato, a
Globo espera tornar o Sítio mais competitivo e atraente para o público jovem,
transformando o programa em uma “novelinha”, com 180 capítulos para cada trama.
Segundo a diretora-geral, Cininha de Paula, a obra e os personagens de Monteiro
Lobato serão preservadas, mas a fantasia trará boas pitadas de realidade,
discutindo temas como cidadania, meio ambiente e problemas familiares.
Para
isso, o novo Sítio ganhará um núcleo adolescente, Pedrinho (João Vitor Silva)
terá que enfrentar a separação dos pais e escolher com quem vai morar, o
Arraial de Tucanos será palco de uma eleição para prefeito, tendo como
candidato o compadre de Dona Benta, coronel Teodorico (Ary Fontoura), e terá
também uma escola. O Arraial ganha também uma rádio, conduzida por uma
adolescente órfã, Cléo, que será o centro da trama de estréia.
Já a
espevitada Emília (Isabelle Drumond) vai ter que enfrentar a concorrência com a
nova boneca de Narizinho (Caroline Molinari), Patty Pop, que também vai virar
gente e tentará transformar a menina numa perfeita patricinha, com unhas
pintadas, maquiagem e tudo, numa alusão à tendência crescente das meninas em
adotar comportamentos e hábitos de consumo de gente grande. É claro que as duas
bonecas vão viver às turras. Diante da “adultização” precoce da neta, dona
Benta vai dar mais uma das suas lições de vida, ensinando à Narizinho a
importância de aproveitar a infância.
Saiba
mais sobre a nova versão do Sítio neste bate-bola com Os roteiristas Duca
Rachid, Julio Fischer e Alessandro Marson.
MIDIATIVA- Por
que a decisão em reformular o Sítio em formato “soap opera”? O target foi
reformulado para atingir também o público pré-adolescente?
JÚLIO FISCHER: A
decisão de transformar o Sítio numa “soap opera” foi da direção artística da
emissora, por considerar que o programa tinha potencial para isso. A idéia do
projeto é atingir prioritariamente o público infantil, mas será uma ótima
atração para o infanto-juvenil e adulto também.
MIDIATIVA- Quais
as principais inovações em relação à estrutura anterior?
DUCA RACHID: O
“Sítio” agora se parecerá mais com uma “novelinha”. Terá uma história
principal, envolvendo Cléo, João da Luz, a madrastra de Cléo, Marcela, e um
velho advogado, o doutor Saraiva. Uma história que irá se desenvolver ao longo
de 180 capítulos.
Cléo é
uma menina orfã, que ficou aos cuidados de Marcela, que a explora, fazendo-a
trabalhar como uma adulta. Mas o que interessa mesmo à Marcela é uma herança
muito especial, uma jóia valiosíssima, que o pai de Cléo instruiu o Dr. Saraiva
a entregar a menina, quando ela completar 15 anos.
CINNINHA DE PAULA: Sabendo
disso, Marcela fará de tudo para impedir que a jóia chegue às mãos de Cléo. Seu
plano é ficar com a jóia e dar um sumiço na menina. Só que ela não contava com
a intervenção da turminha do Sítio, onde Cléo vai se esconder. Já João da Luz,
é um menino que fugiu de um reformatório e foi se esconder no Capoeirão, onde construiu
uma casa na árvore para morar.
Cléo e
João da Luz vão se conhecer e viver uma história de amor cheia de emoção e
reviravoltas. A “cambadinha” do Sítio, que é como Dona Benta se refere
carinhosamente aos seus netos e à Emília, terá participação ativa na trama
principal.
DUCA RACHID: Além
disso, cada um deles viverá sua própria história. Emília, por exemplo, terá uma
rival: a boneca industrializada, Patty Pop, que Narizinho vai ganhar de
presente do Coronel Teodorico. Narizinho viverá uma “paixão platônica”, por um
jovem jornalista estágiário - César Britto, que chega ao Arraial dos Tucanos
para fazer matérias sobre as criaturas folclóricas do Capoeirão (como a Cuca, o
Saci e a Iara). César Britto esconde uma identidade secreta: a do Máscara
Verde, um justiceiro mascarado preocupado com o meio ambiente e a preservação
da cultura popular.
Pedrinho
vai se confrontar com uma situação cada dia mais comum na vida das crianças de
hoje: a separação dos pais. A Iara, a Mãe d´Água, ganhará uma rival à altura,
em beleza e vaidade: Miss Sardine, que vai se instalar no riacho do Capoeirão.
As duas vão disputar o amor de um charmoso Boto. Já o Saci, preocupado com a
gradativa extinção dos pererês, vai receber a ajuda de Pedrinho e do Visconde
para fazer um criatório de sacizinhos.
MIDIATIVA- Como
os autores equilibram o peso da tradição de Monteiro Lobato com as inovações
requeridas pela teledramaturgia atual?
DUCA RACHID: Tivemos
o cuidado de trabalhar com personagens e tramas sugeridos nos livros de Lobato.
Cléo, por exemplo, é uma personagem que aparece no livro “Caçadas de Pedrinho”,
e é descrita como uma radialista da cidade, uma menina “desembaraçada”, que
costuma trocar cartas com Narizinho e sugerir novas aventuras à turma do Sítio.
Já João da Luz, (Zé da Luz, originalmente) é mencionado no livro “História do
Mundo para Crianças”, como um garoto “brigão”. Além disso, sabemos que Pedrinho
tem uma mãe, Antonica, e, portanto, tem também um pai. E esses pais podem se
separar, mantendo a característica do matriarcado de que se constitui o Sítio.
Em
relação aos temas que iremos tratar, como adoção,inclusão social, a dissolução
da família tradicional e a convivência das crianças atuais, com novos modelos
familiares, acreditamos que Lobato, se fosse vivo, com certeza estaria
abordando essa nova realidade.
Lembremos,
por exemplo, que em plena década de 20, Lobato criou uma boneca “desquitada”.
Emília se “desquita” de Rabicó, assim que descobre que foi enganada por
Narizinho: o porquinho não é, nem nunca será um príncipe.
MIDIATIVA- Que
tipo de situações os autores devem explorar na trama, com a presença de um
escola e uma rádio comunitária?
ALESSANDRO MARSON: A escola servirá de pretexto para falarmos
de alfabetização (adulta inclusive), e incentivarmos os estudos e a leitura. A
rádio não é propriamente uma emissora comunitária, mas uma rádio interiorana
típica, que utiliza pouco mais que uma pick-up, amplificadores e alto-falantes.
Ela servirá de instrumentos para mostrarmos as tradicionais festas populares do
interior de São Paulo.